A recente revelação de que o personagem Poliana, interpretado por Matheus Nachtergaele no remake da novela Vale Tudo, é assexual provocou uma onda de comentários nas redes sociais e trouxe à tona um tema ainda pouco discutido nas tramas da TV aberta. Em uma conversa emocionante com a irmã Aldeíde, vivida por Karine Teles, Poliana contou que não sente desejo sexual. A fala surgiu no momento em que Dalva (Nataly Rocha), nova fornecedora do restaurante, demonstrava interesse afetivo por ele.
De acordo com o sexólogo Vitor Mello, a assexualidade é uma orientação legítima, marcada pela ausência de atração sexual. “Isso não significa que a pessoa não ame ou que não queira se relacionar”, explica. Segundo ele, é importante diferenciar a assexualidade do conceito de celibato ou abstinência. Nesses casos, a pessoa escolhe não fazer sexo, mesmo com desejo. Já na assexualidade, o desejo simplesmente não existe.
Poliana e a nova representação da sexualidade na novela Vale Tudo
Na versão original da novela, exibida em 1988, o personagem Poliana era heterossexual e vivia um romance com Íris (Cristina Galvão). Agora, no remake escrito por Manuela Dias, a autora optou por apresentar o personagem sob uma nova perspectiva, refletindo questões atuais da sexualidade humana. E isso tem gerado reflexões importantes.
Trazer personagens assexuais para a dramaturgia é uma forma de promover inclusão e ampliar os olhares sobre a diversidade.“Quando validamos essa experiência, promovemos mais respeito e saúde emocional. Muitas vezes, essas pessoas são vistas como estranhas ou frias, quando, na verdade, vivem plenamente, só que sem o desejo sexual”, pontua Vitor.
Relacionamentos afetivos também fazem parte da vivência assexual
Ao contrário do que muitos pensam, pessoas assexuais podem — e muitas vezes querem — ter relacionamentos amorosos. O que muda é a forma como esses vínculos se desenvolvem. “Elas criam laços profundos, baseados no carinho, no companheirismo e no afeto. O sexo não é o centro da relação, mas isso não significa que não haja entrega ou conexão”, explica o sexólogo.
Além disso, algumas pessoas do espectro assexual podem, sim, ter relações sexuais com seus parceiros como uma forma de expressar amor, mesmo sem sentirem atração sexual. Isso mostra que há muitas formas legítimas de amar, e cada casal encontra a sua maneira de se conectar.
A assexualidade é um espectro com diferentes vivências
Um dos pontos mais importantes da conversa é entender que não existe um único jeito de ser assexual. “A assexualidade é um espectro, com várias nuances. Há pessoas que são românticas, ou seja, querem se envolver afetivamente, mas não sentem desejo sexual. Já outras, chamadas de arromânticas, não têm vontade de viver romances, e se sentem plenas assim”, esclarece Vitor.
Outros termos também fazem parte desse universo. O demissexual, por exemplo, é alguém que só sente atração sexual quando desenvolve um vínculo emocional forte com a outra pessoa. Já o grissexual sente desejo sexual raramente, ou apenas em situações muito específicas. Embora diferentes, todas essas vivências são válidas e precisam ser respeitadas.
Os desafios enfrentados por quem vive a assexualidade
Apesar dos avanços, ainda há muita desinformação e preconceito em torno da assexualidade. Vitor lembra que a sociedade atual valoriza muito o sexo como sinônimo de saúde, felicidade e maturidade. Quando alguém diz que não sente desejo sexual, logo surgem julgamentos. “É comum ouvirem que estão com problemas hormonais, que aram por traumas ou que ainda vão mudar de ideia. Isso deslegitima sua vivência e afeta a autoestima”, alerta.
Outro desafio é a confusão frequente entre assexualidade e fases ageiras de desinteresse, como aquelas causadas por estresse, luto ou cansaço extremo. Quando alguém está ando por um momento difícil, sente falta do desejo e quer recuperá-lo. “Já a assexualidade é diferente: quem é assexual costuma estar em paz com essa ausência de desejo, não sofre por isso.”, explica o especialista.
O papel da novela Vale Tudo em abrir espaço para o diálogo
A TV ainda é uma das principais ferramentas para discutir temas sociais e transformar visões. Quando uma novela popular como Vale Tudo inclui um personagem assexual, contribui diretamente para a naturalização dessa orientação e dá voz a pessoas que muitas vezes se sentem invisíveis.
Além disso, ao reconstruir o personagem Poliana sob essa nova ótica, o remake mostra como é possível revisitar histórias clássicas com um olhar mais inclusivo e atualizado.
Educação e empatia: caminhos para o respeito à assexualidade
Para que o tema avance e se torne menos tabu, é essencial buscar informação de fontes confiáveis e ouvir quem vive essa experiência. A assexualidade, assim como qualquer outra orientação, merece ser compreendida com empatia. A diversidade sexual é parte do que nos torna humanos. Quando aprendemos a respeitar as diferentes formas de amar e de viver, todos ganham.
Resumo: A novela Vale Tudo reacende o debate sobre a assexualidade ao apresentar Poliana, personagem que representa essa vivência com sensibilidade e verdade. Ao abordar o tema de forma aberta e acolhedora, a trama contribui para a quebra de preconceitos e dá visibilidade a uma orientação sexual que, embora legítima, ainda é pouco compreendida.
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